A doença de Parkinson é uma das doenças neurológicas mais comuns nos dias de hoje e acomete aproximadamente 1% da população acima dos 65 anos. Esta doença foi originalmente descrita pelo médico inglês James Parkinson em 1817, no entanto foi somente no início da década de 60 que pesquisadores conseguiram identificar as alterações patólogicas e bioquímicas no cérebro de pacientes que eram a marca da doença. Com isto surgiu o primeiro tratamento com sucesso para doença de Parkinson e abriu novos caminhos para o desenvolvimento de terapias efetivas. Embora sua causa permaneça desconhecida, progressivas descobertas científicas tem trazido importantes informações para a melhor compreensão e tratamento deta doença.
É a Doença de Parkinson uma doença comum?
A doença de Parkison é uma das doenças neurológicas mais comuns. Estima-se que a prevalência da doença de Parkinson na população é de 150 a 200 casos por 100.000 habitantes e a cada ano surgem 20 novos casos por 100.000 habitantes. É mais frequente após a sexta década de vida, mas 10% dos casos ocorrem antes dos 50 anos e 5% antes dos 40. Embora não dispomos de dados epidemiológicos precisos no nosso meio, é estimado que com o aumento de idade da população em geral, a prevalência dessa doença aumente progressivamente no futuro, uma vez que a idade é um importante fator de risco.
Quais são as causas da Doença de Parkinson?
A doença de Parkinson ocorre quando certas células nervosas ou neurônios, de uma região do cérebro importante para o movimento morrem. Estes neurônios produzem dopamina e é a perda desta que deixa os pacientes incapazes de direcionar ou controlar seus movimentos de uma maneira normal. Estudos tem demonstrado que pacientes com doença de Parkinson apresentam uma perda de 80% ou mais das células produtoras de dopamina na substância negra. A causa da morte destas células produtoras de dopamina permanece desconhecida.
A doença de Parkinson não é uma doença contagiosa nem é usualmente hereditária. Muitos pacientes tentam associar o início dos sintomas com algum trauma, como um acidente, uma cirurgia ou um intenso estresse emocional. No entanto, nenhuma ligação direta com trauma pode ser ainda provada; um evento traumático talvez pudesse desencadear sintomas ainda não manifestos, mas isso não deveria ser confundido com a causa da doença de Parkinson.
Uma epidemia de encefalite no início do século induziu sintomas semelhantes ao da doença de Parkinson, como representado no famoso filme, "O Tempo de Despertar" (The Awakening - 1990). Essa epidemia levou a intensas investigações da possibiliade de um vírus como sendo a causa da doença de Parkinson. Entretanto, nunca foram encontradas evidências substanciais para essa teoria. Alguns cientistas tem sugerido que a doença de Parkinson possa ocorrer em decorrência de uma toxina (externa ou endógena ao organismo) que destrua neurônios produtores de dopamina. Fatores de riscos ambientais, tais como exposições a pesticidas ou toxinas nos alimentos seriam exemplos de agentes externos que hipoteticamente poderiam causar doença de Parkinson. Essa teoria é baseda no fato de que a intoxicação acidental por tais toxinas, pode induzir sintomas parkinsonianos em humanos. Até o momeneto, entretanto, nenhum estudo provou de forma conclusiva que alguma toxina seja a causa dessa doença. Recentemente tem sido ressaltado o papel de fatores genéticos no desenvolvimento da doença de Parkinson.
Qual a influência da genética na Doença de Parkinson?
Na maior parte dos casos a doença de Parkinson não parece ter uma origem genética exclusiva. No entanto, em cerca de 20% de pacientes com doença de Parkinson apresentam um familiar de primeiro grau que tenha a doença, sugerindo uma possível etiologia genética.
Em 1996, um grupo de investigadores relatou que a susceptibilidade para a doença de Parkinson em uma família italiana estava localizada em um gene do cromossoma 4. Em 1997, o mesmo grupo de investigadores identificou que a doença naquela família era decorrente de uma alteração molecular específca em um gene conhecido como o gene da asinucleína. Estava então demonstrado, pela primeira vez, que a doença de Parkinson pode ser causada por mutações de um único gene.
Atualmente vários outros genes tem sido descritos como causadores de doença de Parkinson. Está com isso estabelecido a heterogeneidade genética na doença de Parkinson. O resultado de qualquer estudo genético não se aplica necessariamente para qualquer outra família do que aquela em estudo. A proporção de casos de doença de Parkinson hereditários não está ainda definida. Casos familiares podem ser muito mais comuns do que se pensava no passado.
Muitos pesquisadores acreditam que talvez a combinação de dois fatores, toxinas e predisposição genética, possam ser a causa da maioria dos casos de doença de Parkinson. Uma predisposição genética poderia, por exemplo, gerar anormalidades de enzimas responsáveis pelo metabolismo de toxinas, provocando assim acúmulo dos mesmos e toxicidade para as células da substância negra que produzem dopamina.
Quais são os principais sintomas motores da Doença de Parkinson?
Os principais sintomas motores da doença de Parkinson são o tremor de repouso, a bradicinesia (lentidão dos movimentos), a rigidez muscular e as anormalidades posturais. O tremor característico da doença de Parkinson é um tremor de repouso, que usualmente inicia em uma mão, embora algumas vezes o pé e a mandíbula podem ser inicialmente afetados. Tipicamente, o tremor nas mãos se torna mais evidente ao repouso ou quando o paciente está em situação de maior ansiedade.
Entretanto, sua característica pode mudar com a história natural da doença, evoluindo para um tremor de ação e postural. Embora o tremor de repouso seja mais comum na doença de Parkinson, ele pode estar presente em várias outras doenças.
A rigidez tipo "roda denteada" afeta a maioria dos parkinsonianos, porém também não é específica da doença, ela usualmente não ocorre no início da doença de Parkinson estando presente em uma variedade de outras doenças neurológicas. Da mesma forma, a lentidão dos movimentos que é frequentemente o sintoma mais incapacitante e angustiante da doença de Parkinson podem ocorrer em uma variedade de outras condições incluindo depressão, doença de Alzheimer etc.
Embora muitos autores considerem a instabilidade postural (desequilíbrio) como uma característica importante da doença, ela usualmente não ocorre no início da doença. Em contraste, instabilidade postural e quedas são sintomas comuns da paralisia supranuclear progressiva e de uma variedade de outras condições apresentando assim pouca especificidade diagnóstica para a doença de Parkinson.
Outros sintomas, tais como micrografia, redução da mímica facial, marcha acelerada com passos curtos, são frequentemente observados em pacientes com doença de Parkinson.
Quais são os sintomas não motores da Doença de Parkinson?
Embora os fenômenos motores constituam o grupo predominante de manifestações clínicas, vários sintomas não motores podem também acompanhar a doença de Parkinson, tais como alterações do olfato, depressão, distúrbios do sono, mudanças emocionais, distúrbios da fala, constipação, sialorréia (salivação excessiva), dificuldades de matisgação e deglutição etc. A natureza, a severidade e a progressão dos sintomas variam enormemente de um paciente para outro.
Depressão
Depressão é um problema comum e pode manifestar-se no início da doença, mesmo antes que outros sintomas tenham aparecido. Os sintomas de depressão podem ser agravados por drogas utilizadas no tratamento de outros sintomas da doença. Nas formas mais acentuadas o tratamento específico com medicamentos anti-depressivos é fundamental para o controle dos sintomas.
Distúrbio do sono
Os distúrbios do sono são um dos problemas mais comuns em pacientes com doença de Parkinson. Eles compreendem uma grande variedade de sintomas que incluem dificuldades para permanecer dormindo durante a noite, sonhos "reais" (paciente tem dificuldade de diferenciar sono da realidade), sono sem descanso, pesadelos e sonolência durante o dia. Estes distúrbios podem estar relacionados com as medicações utilizadas no tratamento.
Mudanças emocionais
Alguns pacientes com doença de Parkinson podem tornar-se inseguros e amedrontados. Temerosos de enfrentar situações novas, eles podem não querer viajar, ir a festas, ou socializar com amigos. Alguns perdem sua motivação e tornam-se dependentes dos familiares. Outros podem tornar-se mais irritados ou exageradamente pessimistas. A capacidade de raciocínio, percepção e julgamento encontram-se intacta na maioria dos pacientes, entretanto alguns referem intensas dificuldades de memória, cálculo e orientação visual e espacial. Tais sintomas são mais comuns nas fases adiantadas da doença. Em muitas ocasiões as próprias medicações usadas para o tratamento da doença de Parkinson podem contribuir para a produção de alterações mentais como os distúrbios de memória, e em casos mais graves confusão mental e alucinações. Esses sintomas ocorrem mais frequentemente em pacientes mais idosos e felizmente desaparecem quando o medicamento é suspenso ou reduzido.
Distúrbios da fala
Voz mais fraca e com volume reduzido é o distúrbio da fala mais frequentemente observado. Certa rouquidão pode estar presente. Outra característica é o que denomina fala monótona, onde as frases pela perda da entonação e cadências naturais não emitidas de modo constante sem musicalidade e expressão emocional. Alguns pacientes podem apresentar aceleração no ritmo da fala, encurtando o tempo e emissão de uma frase o que torna as palavras embaralhadas e de difícil compreensão. Repetições de sílabas ou palavaras, uma ou várias vezes, no meio ou no fim da frase, podem estar associadas a esta alteração do ritmo da fala.
Outros pacientes podem apresentar redução do ritmo de fala. Embora a terapia antiparkinsoniana pode melhorar muitos destes sintomas, tratamento fonoaudiológico pode ser de grande auxílio.
Constipação e dificuldades urinárias
Alterações urinárias e/ou funcionamento do intestino podem estar presentes pela ação da própria doença (problemas no funcionamento do sistema nervoso autonômico que é responsável pelo controle da musculatura lisa da bexiga e intestino) ou pelo uso de alguns medicamentos antiparkinsonianos. Alguns pacientes podem apresentar incontinência urinária enquanto outros podem apresentar dificuldades para iniciar a micção. Constipação pode ocorrer porque o intestino funciona mais lentamente, mas pode também ser causada pela inatividade, dieta pobre em fibras ou pequena ingestão de líquidos.
Dificuldades de mastigação e deglutição
Os músculos utilizados na deglutição podem funcionar menos eficientemente nos estágios avançados da doença. Nestas situações, alimentos e saliva podem acumular-se na boca e garganta o que pode ocasionar perda da saliva pelo canto da boca e engasgamentos. Algumas medicações costumam ser benéficas nestes casos.
Problemas na pele
Na doença de Parkinson é comum que a pele do rosto se torne excessivamente oleosa, especialmente na testa e nos lados do nariz. O couro cabeludo pode tornar-se oleoso resultando em caspa. Em outros casos, pele excessivamente seca também pode ocorrer problemas de funcionamento do sistema nervoso autônomo. Tratamentos dermatológicos convencionais para estes problemas são usualmete úteis. Suor excessivo, outro sintoma frequente, é usualmente controlado com medicação antiparkinsoniana.